domingo, 17 de dezembro de 2017
No tempo de Deus...
Olá queridos amigos e amigas do blog! Faz tempo que venho tentando escrever de novo por aqui, mas confesso tem momentos que ainda está bem difícil escrever. Aos poucos, com a graça de Deus e a ajuda de tantos amigos e amigas queridos, vou me renovando em força e graça pra continuar a caminhada. A vida é assim! Tem momentos que estamos bem, tem momentos que precisamos de ajuda mesmo! Mas Deus não nos desampara nunca! O amor Dele por nós é único. Não importa em qual tempo de vida você está. Nestes dias um amigo meu escreveu sobre : Envelhecer, a partir da data de seu aniversário. Escreve muito bem por sinal. Um dom lindo que Deus concedeu a ele, e eu partilho hoje aqui com vocês!
Sei que este blog é pra ajudar tantas pessoas com medo e pânico. O que teria de especial sobre envelhecer? Mas sei que tem muita gente que tem medo do amanhã. Do futuro incerto. Daquilo que a gente não pode controlar ou ver. E as vezes este medo de perder o controle do futuro, nos dá muita ansiedade, nos leva a um pânico na alma. Precisamos aprender a viver com o tempo que aí está...
Basta caminhar e confiar em Deus.
Pedi permissão ao Rafael Tafarello,do qual escreveu tão bem este assunto, para você ler e refletir sobre sua vida, seus anos, seu tempo...
O tempo passa, doente ou não, forte ou fraco, com saúde ou doença, ele passa...
Que cada um de nós possamos viver bem o hoje, na confiança plena de que Deus está no controle de tudo e Ele pode tirar o bem de todo mal que vivemos a qualquer tempo, porque Ele é o Senhor do tempo....
Vamos deixar ser conduzidos por Ele....
Meu abraço a todos! Conte com minhas orações sempre!
Envelhecendo
ENVELHE-SENDO
(Por ocasião de meu aniversário, para quem ta com pique pra leitura kkk)
Na comemoração dos meus vinte anos, eu dizia que a tendência natural de todo ser humano é refletir sobre o tempo: o tempo que passou e o tempo que resta. Tempus fugit. O tempo foge sem parar. Mas, por convenção, só pensamos nele em datas especiais. Meus quase trinta anos está por vir. Será que eu os tenho ou eles já se foram e só tenho o tempo que resta?
Há poucos meses, o Papa Francisco, ao fazer oitenta anos, dizia que a palavra velhice, às vezes, assusta. E ele lembrava um verso de Ovídio: “a passos silenciosos, a velhice avança na minha direção”, para concluir que a velhice é mais uma etapa da vida e é preciso vê-la com alegria e esperança.
Andei lendo algumas reflexões sobre a velhice. Santo Agostinho, Norberto Bobbio, Saramago, Borges, Rubem Alves.
Santo Agostinho pergunta o que é o tempo. “Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito?”
Bobbio reconhece que louvar a sabedoria da velhice nos tempos modernos, nos quais o conhecimento se desatualiza de forma acelerada, é profundamente enfadonho. O velho hoje, mais do que nunca, é um estranho entre sistemas filosóficos e culturais que se sucedem de forma cada vez mais rápida. Quem louva a velhice nunca a viu de perto. E conclui que, entre o velho sábio da tradição retórica, o velho sorridente dos novos anúncios, celebrado membro da sociedade de consumo, e o desespero da velhice pobre há um abismo. São situações extremas. Entre elas, há uma infinidade de velhices.
Já Borges, num texto conhecido, reflete o que faria se pudesse voltar no tempo. Diz ele que cometeria mais erros e tentaria ser menos perfeito, pois era daqueles que nunca ia à parte alguma sem um termômetro.
Por outro lado Saramago pergunta: “Quantos anos tenho? Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas…valem muito mais que isso.
O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa?
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.”
Gosto muito da expressão de Rubem Alves: envelhe – sendo. Particípio presente e não passado do verbo ser.
Com Mario de Andrade, posso dizer: “Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E, para mim, basta o essencial!"
E se basta o essencial, Brecht me faz pisar no chão:
“Eu vivo em tempos sombrios.
Que tempos são esses,
Quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?”
Ao ler todos este autores, convenci que ficar velho não é ruim. A velhice tem uma beleza que lhe é própria. A beleza das velhas árvores é diferente da beleza das árvores jovens. O triste é quando as velhas árvores, cegas para a sua própria beleza, começam a imitar a beleza das árvores jovens.
Tenho sempre repetido, em minhas falas, uma reflexão de Rubem Alves que gosto muito: O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração. A sabedoria dos gregos faz uma diferença entre estas batidas. Ao tempo que se mede com as batidas do relógio, eles davam o nome de chronos. A batida do relógio vai dividindo o tempo em pedaços iguais: meses, dias, horas, minutos, segundos. Vinte e nove anos! Quantos meses, quantos dias, quantas horas, quantos minutos, quantos segundos de vida? Quantos anos? Quantos cursos e faculdades? Quantos amigos e colegas? As batidas do relógio são indiferentes à vida e à morte, ao riso e ao choro, à alegria e à tristeza.
Mas há o tempo que se mede com as batidas do coração. A esse tempo os gregos davam o nome de kairos. Não é o tempo do cronômetro, mas o tempo da vida como realidade significativa do ser humano. Não é o tempo que se mede em dias e horas, mas pelo significado que damos a ele.
E a partir daí vou dando significados para a minha vida, passando pela minha terra Natal, em Itatiba/SP. Vivendo as loucuras do dia a dia, esse tempo demasiado errado e sem sentido em tudo, apenas ao tempo de meros mortais que se veem presos em seus alicerces para chegar ao fim da vida e deixar tudo. E de que valeu apena?
Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas, coloca na boca de Riobaldo, o jagunço e herói, a diferença entre chronos e kairos:
“A lembrança da vida a gente guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros, acho que não se misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente que outras, de recente data.”
Kairos, as batidas do coração, me salva do chronos, as batidas do relógio. E as batidas do coração me levam aos meus pais que me deram a vida, aos meus irmãos queridos. E lembro de uma maneira especial dos que já se foram: meus avós maternos e paternos, e de meu pai, que pouco o conheci, a todos que estão presentes nessas batidas, parentes e amigos, muitos dos quais estão hoje aqui. Mas me levam principalmente à família que tenho, todos, razões maiores das batidas do coração, que as batidas do relógio nunca conseguirão destruir.
Quando olho para uma foto minha recente e comparo com outras antigas que estão nos porta-retratos, eu entendo as medições do chronos. Alem disso, há o espelho que reflete as marcas do tempo. Mas o coração não se importa com o chronos. O coração entende de vida. Kairós mede a vida pelas pulsações do amor. Chronos faz as somas de anos e me diz que eu fiquei mais velho. Faço as subtrações e percebo que me resta cada vez menos tempo. Já estou roendo o caroço da cereja. Aí vem Kairos em meu socorro, para espantar a tristeza. O amor vale pelo momento. O poeta Horácio aconselhava: Carpe diem quam minimum credula postero (Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã). Devemos valorizar cada segundo como se fosse o último. É Borges que me aconselha: viva somente os bons momentos, não perca o agora. O amor não se mede pelas batidas do relógio. Não se mede pelo número de anos vividos.
E mais uma vez, Riobaldo, o herói e o jagunço, o filósofo de Grande Sertão e Veredas, na sua sabedoria, me lembra: “O real não está na saída nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. Chegar é importante, mas caminhar é tudo, pois só chega quem se põe a caminho.”
Agradeço a todos os que tem me ajudado nesta travessia. Gratidão pelas felicitações de minha data natalícia. A vocês que correspondem desta forma, neste gesto de parabenizações, acolho a cada um, e agradeço pelo dom da amizade, que é para poucos. Assim seja!
Rafael Tafarello
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